Para qualquer tipo de projeto é necessário se ter em conta o público para o qual se está a projetar. Uma vez definido esse público, é importante que se entenda o mesmo para identificar a real necessidade que esse público tem e desenhar uma solução para responder a esse problema. É possível ter essa informação através do processo de pesquisa de utilizador, onde o profissional tira tempo e utiliza ferramentas de pesquisa para entender o público para o qual ele pretende desenvolver um produto ou um serviço. 

Quando se trata de design de produtos digitais, esse processo é fundamental e primordial para que não se perca tempo a desenhar algo que no final não irá responder a uma necessidade real que esse público possa ter. 

Para as equipas de design e desenvolvimento de produtos digitais, a pesquisa do utilizador é uma fase importante do desenvolvimento porque evita gastos de recursos como tempo e dinheiro no processo ao se descobrir que o que a equipe está desenvolver não está alinhado com a real necessidade do público que vai interagir com o produto. É importante que o pesquisador deixe de lado os seus preconceitos e vá ao campo fazer a pesquisa sem deixar com que as suas hipóteses influenciem no resultado da pesquisa que está a ser feita. 

Os pesquisadores utilizam de ferramentas como Personas, que são um conjunto de características específicas do público que se pretende investigar para guiar a sua busca pelas pessoas que reúnem os requisitos necessários para fazer parte da sua pesquisa. Uma pesquisa pode começar com uma hipótese em relação ao que se espera encontrar quando se faz a recolha de dados, mas não pode ser guiada pela hipótese sobre o risco de se ter dados não reais ou que não correspondem a realidade das pessoas que foram entrevistadas. 

“O pesquisador deve ter empatia o suficiente para conseguir deixar de lado o seu próprio ego e colocar-se no lugar de quem ele está a entrevistar (caso seja utilizada a entrevista como método para colher os dados), deve ser um bom escutador e ter a capacidade de sintetizar a informação colhida que depois será traduzida em funcionalidades no contexto de um produto digital, caso seja esse a finalidade da pesquisa.“

Para além da entrevista, existem outras ferramentas que são utilizadas por pesquisadores para a colher dados que a posterior serão utilizados para o desenvolvimento dos produtos digitais, nomeadamente: inquéritos, observação direta, observação indireta, pesquisa documental, entre outros. Os dados colhidos são então analisados para que de seguida possam passar a equipe de design e desenvolvimento do produto de forma que estes possam utilizar os mesmos para desenvolver soluções que respondem aos problemas encontrados durante a etapa da pesquisa de utilizador. 

“É importante mencionar que este processo é também um processo iterativo sendo que por vezes é possível que haja a necessidade de se voltar ao campo para colher mais dados ou esclarecer algum aspecto que não ficou claro durante a primeira iteração do processo de pesquisa. ”

Em nossa publicação anterior, mencionamos como é importante o uso de protótipos para se testar o produto antes mesmo do desenvolvimento. Apesar de existirem limitações para saber se as soluções funcionam num cenário mais aproximado ao mundo real, é possível colher algumas informações úteis sobre como a solução desenhada, mesmo antes de ser implementada, resolve (ou não) o problema dos utilizadores finais. Com isso, é importante salientar que o processo de pesquisa não está preso apenas ao início do processo de desenvolvimento dos produtos digitais; ele está presente também na hora de testar o protótipo e depois de se desenvolver o produto onde esse também será testado junto junto aos utilizadores finais e monitorado de forma que sejam colhidos dados para procurar soluções para melhorar o produto desenvolvido.

Durante o tempo em que a nossa equipe esteve para trabalhar com a Sonil para desenvolver o sistema de recolha de dados para sua empresa, foi importante fazer uma visita ao local e interagir com as pessoas que estariam a utilizar o produto, entender as suas maiores dificuldades com o processo atual e como ele era feito, perceber como o produto que a nossa equipe projetaria ajudaria com o trabalho que eles atualmente estavam a fazer e a posterior utilizar essa informação para começar com desenvolvimento de um produto que responderia as necessidades reais do público para o qual estávamos a trabalhar. A primeira informação relevante que tivemos em relação ao nosso público é que eles eram um grupo de pessoas com baixa literacia digital, o que significava que teríamos de projetar para pessoas que não estão acostumadas a interagir com produtos digitais no seu dia a dia. Essa informação foi crucial para o restante do desenvolvimento do projeto porque o desafio passou a ser não apenas a transformação digital como também criar uma estratégia de desenvolvimento que acomodasse os utilizadores finais sendo que estes tinham todo o seu trabalho feito de forma manual até então e precisariam de ser orientados em relação ao uso de plataformas digitais de modo geral. Na primeira fase do processo de pesquisa entrevistou-se alguns dos funcionários que representavam uma amostra do que era a realidade no trabalho que era feito na empresa. Após entender-se os desafios que existiam na altura em relação ao trabalho e em relação ao uso das plataformas digitais, foi criado um protótipo simples com o menor número de interações possíveis para ajudar aos funcionários a compreender de forma objetiva o uso da plataforma que estava a ser desenvolvida para eles. Uma vez desenhado, este protótipo foi apresentado aos funcionários para que pudessem testar de modo que equipe de pesquisa entendesse o grau de dificuldade no uso da mesma, colher estes dados, refinar o protótipo e após algumas alterações do mesmo foi colocado em produção já tendo entendimento dos problemas que eram necessários resolver e as possíveis soluções para tal. O produto desenvolvido foi também apresentado em um cenário real onde foi submetido a testes. Aqui levantadas algumas questões que deviam ser revistas para acomodar ao trabalho destes funcionários. 

Portanto, o exercício de pesquisa do utilizador ajuda a equipa de desenvolvimento a produzir soluções de forma informada e que realmente atendam as necessidades do mundo real deixando de lado os seus preconceitos focando-se no utilizadores finais como fornecedores da informação necessária para se ter um produto que é viável e que funcione para o fim desejado.