Por Que Alguns Produtos se Tornam Obsoletos? – A Perspectiva de um UX Designer

No mundo do design, o que mais vemos são produtos que, de um dia para o outro, passam de indispensáveis a relíquias empoeiradas. Mas por que isso acontece? Para um UX Designer, a resposta vai além da tecnologia: envolve a forma como as pessoas interagem, conectam-se e encontram valor no que usam. Em Moçambique, onde as experiências digitais estão em rápido crescimento, mas variam amplamente entre regiões e contextos, compreender essa transformação é vital para criar produtos que resistam ao tempo e ao desinteresse.

1. UX de Primeira: Quando o Produto Desconecta do Utilizador

Quando falamos de obsolescência, esquecemos muitas vezes o que realmente leva um produto a ser abandonado: a experiência do utilizador. Se a interface não se adapta às necessidades, frustra o utilizador ou fica ultrapassada, não importa quão avançado seja o produto; ele perde o valor. Imagina um aplicativo de um dos nossos bancos comerciais: se ele não for directo, eficiente e culturalmente sensível, os utilizadores podem rapidamente preferir outros métodos, como o uso directo de carteiras móveis via USSD, que são muito comuns no nosso país.

Produtos de longa duração são aqueles que conseguem se reinventar para manter a experiência prática e satisfatória. Se a experiência do utilizador não acompanha as mudanças de hábitos, ela desconecta-se e, rapidamente, o produto vira coisa do passado.

2. Mudar para Sobreviver: Quando o Produto Esquece de Evoluir

A verdade é que produtos que não mudam morrem. Em UX, entendemos que produtos devem evoluir com as necessidades do utilizador – e isso significa acompanhar o feedback e as tendências locais. Ainda no exemplo de um aplicativo de um banco comercial, com o aumento do uso de smartphones em Moçambique, um aplicativo bancário ou de pagamentos digitais precisa adaptar-se, oferecendo funcionalidades práticas para quem está em movimento ou que use dados limitados. Ignorar isso é correr o risco de desaparecer.

Em design de UX, não basta ouvir o utilizador uma vez; é preciso acompanhá-lo ao longo da sua jornada, adaptando a solução para refletir essas mudanças. Caso contrário, o produto se torna incapaz de sobreviver ao que os utilizadores realmente precisam e acaba sendo superado por alternativas mais actualizadas e dinâmicas.

3. Quando a Acessibilidade se Torna Inalcançável

Acessibilidade não é luxo; é necessidade. Cá, o acesso desigual à tecnologia faz com que produtos complexos ou com altas demandas de dados fiquem fora do alcance de grande parte da população. Em UX, um dos princípios básicos é entender a realidade dos utilizadores: um produto que não funciona em redes lentas ou que exige hardware de ponta dificilmente ganhará tração em mercados com essas limitações.

Por isso, designers que conhecem o contexto sabem que manter um produto acessível em diferentes dispositivos e com baixo consumo de dados é essencial para evitar a obsolescência. Se um produto deixa de ser acessível, ele também deixa de ser relevante.

4. Relevância Cultural: Mais Que Simples Funcionalidade, é Conexão

Produtos que se limitam a oferecer funcionalidades práticas, sem se conectar culturalmente com o utilizador, têm vida curta. Nosso país tem uma diversidade cultural rica e marcante. Produtos que celebram ou, pelo menos, respeitam esse contexto tornam-se mais apreciados. Pensa, por exemplo, num aplicativo educacional que permite o uso de changana, macua ou outras línguas locais. Este detalhe não só amplia a acessibilidade como cria uma conexão emocional que faz com que o produto permaneça relevante, mesmo com o passar do tempo.

A obsolescência, nesse sentido, pode ser evitada quando o produto faz parte do dia a dia do utilizador, integrando-se naturalmente à sua cultura e valores. Um designer sabe que, sem essa conexão, o produto perde sentido e se transforma rapidamente em uma curiosidade esquecida.

A Relevância é a Melhor Estratégia Contra a Obsolescência

Em última análise, um produto só se torna obsoleto quando deixa de fazer sentido na vida das pessoas. A melhor defesa contra a obsolescência é criar produtos com a capacidade de se conectar, evoluir e se adaptar às necessidades dos utilizadores. Em Moçambique, onde as realidades tecnológicas e culturais são complexas, dinâmicas e diversas, construir algo realmente duradouro significa entender e integrar-se ao contexto, oferecendo uma experiência que seja relevante, acessível e significativa.

Produtos obsoletos não falham porque são “velhos”; falham porque param de importar. E um UX Designer sabe que a única maneira de evitar a irrelevância é garantir que o produto continue essencial – e não apenas na funcionalidade, mas no impacto que ele gera na vida do utilizador.

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